sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quem sou eu ?


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Gostar do silêncio é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações, muitas desnecessárias, outras impossíveis..
O normal é ser atualizada, produtiva e bem-informada.
Ficar sossegada é perigoso: pode parecer doença.
Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.
Estar sozinha é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém – como se amizade ou amor se “arrumasse” em loja.
Mulher se está só, em mente preconceituosa é sempre porque está abandonada: ninguém a quer.
O silêncio assusta por retumbar no vazio dentro de nós.
Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam ...
Quem afinal sou eu?
Quais desejos e medos, projetos e sonhos?.
Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona desconcerto nosso.

Com medo de ver quem sou ?.
Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse:
- Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.
E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para volta mais inteiro ao convívio, às tantas fases, às tarefas, aos amores.
Então, por favor um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva , e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da musica de todos os sentimentos.
Silêncio...
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