terça-feira, 27 de setembro de 2011

cata vento



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Cata-vento

Tudo começou em um enorme e velho cata-vento construído no topo de uma montanha, o qual todos diziam ser abandonado. Ninguém sabia dizer se aquele fantasma gigante com suas grandes pás girando era uma maldição e até evitavam fazer perguntas por medo ou receio de sofrer algum mal, fato é que daquele grande cata-vento velho saía todos os dias uma garota com seu vestidinho rosa correndo a brincar e descia até a cidade para vender pequenos cata-ventos coloridos.

Havia alguma habilidade secreta de transformação ágil e repentina naquela colina viva. Uma capacidade incompreensível pela competência humana capaz de uma reflexão contagiante em um simples olhar. Será que a maldição estaria no velho cata-vento ou na mata que o rodeava?

A menina rosa chega à cidade acenando com o suave soprar do vento, trocando pensamentos em silêncio com a sabedoria de um velho cata-vento, girando com seu vestido rosa e respondendo com um leve sopro quente, ardente e inteligente.

Fixo meu olhar e a minha atenção na menina de vestido rosado, mantendo escondida minha curiosidade num sorriso estampado, imaginando qual seria a maldição trazida por ela naqueles olhos dourados, me entregando a ela e me sentindo amarrado, dominado. Lentamente me aproximo dela permanecendo quieto ao seu lado, reparando num pequeno cata-vento que deixa os seus cabelos longos e negros discretamente enfeitados.

Palavras entre nós não existiam, apenas a troca de olhares e a brisa silenciosa do vento lançando gotas geladas por um céu cinzento e no momento em que estava quase escurecendo, o vento aumentou sua intensidade trazendo uma onda de frio que arrepiava, aquela brisa gelada parecia um sinal chamando a menina rosada, que pegou rapidamente os cata-ventos e saiu correndo por uma trilha aparentemente abandonada, atravessando a mata e subindo a montanha.

Mesmo não sabendo seu nome tentei chamá-la, porém não consegui sua atenção e apenas a vi correndo pela trilha que cortava a mata, o contraste do seu vestidinho rosa embelezava a mata como se fosse uma linda flor levada pelo vento num vôo montanha acima.

No alto da montanha escurecida pela queda da noite o grande e velho cata-vento girava lentamente como se estivesse cansado pelo tempo, em cada giro parecia estar chamando sua estrelinha encantada, que no escuro da noite brilhava correndo como uma estrela cadente no meio da mata.

Notem o que aconteceu comigo! O vento frio trazia uma garoa gelada molhando meus cabelos, escorrendo pelo meu rosto e atrapalhando minha visão, aquela maldição se apossou do meu coração, da minha alma, dos meus sentimentos, das minhas vontades e do meu querer me deixando atrapalhado.

Na montanha escura eu via o vulto do grande cata-vento, como se fosse um monstro faminto se alimentando do vento e mantendo no topo de sua cabeça a menina de vestido rosado prisioneira, que num pedido de socorro emitia um foco de luz brilhante em minha direção com um poderoso poder de atração.

A trilha escura parecia assustadora, mesmo assim decidi me arriscar e logo encontrei as pegadas da garota para me orientar, ela deixou cata-ventos de todos os tamanhos decorando a mata que girando me informavam o sentido a seguir.

Cheguei ao pico da montanha e encontrei o grande cata-vento gigante, que frente a frente não parecia tão assustador, mas com o movimento de suas pás ao vento ecoava um som amedrontador assim: Rrruuuuuuááác... Rrruuuuuááác... Rrruuuuuááác... Ao pé do grande cata-vento havia um enorme jardim de pequenos cata-ventos coloridos, todos girando em sintonia.

Toda aquela beleza me deixou fascinado, já que era um espaço surreal muito além do meu imaginário e no momento em que eu apreciava aquela arte tão bela alguém chegou por trás de mim e tapou meus olhos dizendo: - Vamos brincar de esconde-esconde! Conte até vinte depois pode virar.

O toque das suas mãos macias e a sua voz pertinho do meu ouvido me deixou feliz, então resolvi brincar e comecei a contar, depois fui procurá-la. Não havia onde se esconder naquele local, então eu subi no grande cata-vento para olhar do alto, de lá o campo de visão é muito maior e quando eu estava no topo, olhando aquele grande jardim de cata-ventos girando me distrai com uma forte emoção de liberdade, até levei um susto quando meus olhos foram tapados novamente e ela falou: - Você não conseguiu me encontrar, conte até vinte e tente de novo.

Contei e ela sumiu, então resolvi procurá-la naquele imenso jardim de cata-ventos. Eu caminhava e eles pareciam girar para mim, um mais lindo que o outro, tão lindos que pareciam vivos e no momento em que eu me distraí olhando um pequenino cata-vento rosa girando, ela tapou meus olhos novamente, mas desta vez eu não a deixei falar, segurei a sua mão e virei repentinamente fixando meu olhar em seus olhos, nesse erro fatal fui amaldiçoado.

Parecia haver dois cata-ventos girando em seus olhos cor de mel que me atraiam como uma serpente. Eu tentava olhar seus lindos cabelos e era atraído pela hipnose do olhar, tentava olhar sua boca rosada e sedutora, mas era levado novamente para o labirinto do olhar dela, até perder as forças e me entregar numa sensação de estar sendo desligado do mundo.

A menina do cata-vento me levou para longe e nos pensamentos distantes me entregou um cata-vento de fogo que queimou a minha mão atingindo o meu coração, meu sangue começou a ferver deixando minha pele rosada, dos meus olhos surgiam labaredas de paixão e foi beijá-la para meu corpo incendiar queimando no fogo ardente do amor quente. Para aliviar tanto calor só fazendo amor...amar...amar...amar... Depois adormeci.

Amanheceu e com a chegada do sol voltei à vida, mas a menina rosada não estava mais lá, havia apenas o grande jardim de pequenos cata-ventos girando, então resolvi voltar para a cidade e ao chegar encontrei a menina vendendo seus pequenos cata-ventos. Comprei um e ela falou sorrindo: - Agora você me encontrou!

Peguei o cata-vento na mão e sai andando com ele girando, logo percebi que ele queimava em minha mão, era a magia dela invadindo o meu coração e pedindo para eu ficar em seu mundo. O tempo girou, girou, girou e agora eu a ajudo a cuidar daquele lindo e imenso jardim de cata-ventos coloridos. Nós vivemos sonhando no nosso mundo colorido, onde tudo gira feliz.


ZzipperR

Um comentário:

Paulo Ribeiro Alvarenga disse...

Um mundo de sonhos gostoso, onde tudo gira feliz...Até o amor...beijos